"Meu querido diário": Um convite ao encontro consigo mesma

Em plena febre de blogs a milhão por aí, a psicóloga Juliana Garcia resolveu viajar fundo num diário tradicional, dos “velhos tempos”... E não quis um caderno pronto... Pegou folhas recicladas, uma capa dura, cortou, aparou arestas, lixou e, ainda assim, ficou tudo torto.
Mas ela adorou e passou a viver uma viagem de consciência muito interessante, onde faz contato natural com a alma e encontra, sem querer, uma unidade onde antes apenas havia fragmentos confusos. Tem anotado sonhos também, e os significados estão brotando.
Acompanhe mais de perto a experiência. Que, por sinal, ela recomenda a todas e todos do Absoluta.


O hábito de escrever diários parece sempre estar ligado a jovens mocinhas, que desejam guardar seus segredos amorosos entre desenhos fofos e cadeados.
Não sou uma jovem mocinha (apesar de ser, sim, jovem!), nem tenho segredos amorosos a esconder entre cadeados, mas recentemente comecei a escrever meu próprio diário e tenho incentivado outras pessoas a se lançarem nessa possibilidade. Meninas, moças, mulheres, anciãs - todas nós merecemos um espaço de contato com nossas emoções, e o diário pode ser uma via de acesso.
Apesar de ser uma atividade mais reconhecida no mundo feminino, escrever sobre seus sentimentos também pode ser um exercício e tanto também para os homens, e por que não?
No meu caso, optei por não comprar aqueles diários prontos mas, sim, escolhi o papel que eu desejava, o material para a capa, que depois queria decorar ao meu modo, e decidi que iria encadernar. Coisa de artesã!
Não foi simples! Comprei as folhas recicladas, consegui um material mais rígido como um papelão para a capa e fui encadernar. Eu queria que as folhas A4 fossem cortadas ao meio para formar um caderno pequeno. Chegando ao local onde faziam o serviço de encadernação, o atendente disse que eles não faziam o serviço de corte, mas que me emprestaria a guilhotina para que eu mesma cortasse (fiquei me perguntando: se não fazem o serviço de corte por que têm uma guilhotina?!). Aceitei, cortei de 4 em 4 folhas, fiz todo o processo e pedi para que encadernassem. Minhas folhas ficaram totalmente tortas! Tive que aparar arestas, cortei, lixei e, ainda assim, ali estavam as marcas da imperfeição.
E isso foi ótimo para início de conversa nesse processo reflexivo a que me propunha!

Contato natural com a alma - Na experiência de escrever o diário, o meu único e exclusivo prazer é o de expor meus sentimentos aos meus próprios olhos, sentir as palavras tomando a forma do que estava confuso aqui dentro, e me surpreendo ao notar que cada anotação se junta às demais formando um só texto. Vejo a unidade no que antes eram só fragmentos confusos dentro da mente. Os pensamentos não pulam mais de galho em galho, mas surgem diante de mim revelando uma ordem, um sentido, e posso testemunhá-los. Entro em contato mais profundo com minha alma e da forma mais natural possível.

Vejo minhas fraquezas, as incongruências, as muitas interrogações. Vejo o meu modo típico de lidar com essas questões, ali diante dos meus olhos. Vejo minha hesitação e minha coragem surgindo aos poucos.
E muito do que vejo só vem depois das palavras irem surgindo, ganhando vida sem nenhum ensaio. Elas chegam e vão delineando o desenho, mostrando através de setas e eu sigo. Depois, ao ler, lá estão as indicações certeiras do caminho.

No diário, tenho anotado meus sonhos e, sem que eu intencione, os significados mais profundos se desvelam na folha antes em branco. A alma deixa-se mostrar quando damos espaço a ela, aliás, ela anseia por ser percebida.
Em alguns momentos sinto que já terminei os escritos daquele dia e me vem o impulso de voltar a escrever. Registro esse movimento, deixo as coisas fluírem naturalmente e logo as palavras apontam o sentido.
Estou impressionada com o processo e venho indicar, como venho indicando aos clientes do consultório, às amigas e aos amigos: retome o "Querido diário" ou comece a se aventurar nessas paragens, se você nunca ousou.
Só você, a caneta, o papel, os sentimentos e as palavras. Uma forma simples e, ao mesmo tempo, profunda de se escutar e de se encontrar.

Juliana Gomes Garcia, bacharel em Psicologia, cursando Especialização em Psicodrama, artesã
http://re-vitalizar.blogspot.com
julianaggpsi@gmail.com
BELO HORIZONTE/MG
Fotos
Edição de arte a partir de imagens do photobucket

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