

A dança realizada nos rituais era de caráter religioso, numa época em que a religião tinha uma grande importância na vida diária das pessoas. Aos poucos, a dança foi perdendo essa característica de ritual e passou por uma transição, tornando-se também entretenimento.
Por ser uma forma de expressão ousada e sensual, segundo Wendy Buonaventura (1998), começou a gerar polêmica entre homens e mulheres. Ao mesmo tempo em que todos gostavam de assistir às bailarinas dançando, não a consideravam uma atividade aceitável para mulheres de respeito.
Esse preconceito era mais forte com relação às ciganas (gawasee); elas dançavam nas ruas e praças, divertindo seus espectadores, mas não eram consideradas dignas de confiança. As "gawasee" eram discriminadas na sociedade por terem hábitos diferentes e serem minoria naquela região do Cairo. Elas eram pobres e dançavam para ganhar dinheiro, assim como outros animadores.
Apesar disto, a dança foi se desenvolvendo e sendo praticada também por mulheres versadas em artes, as "Awalim", que eram cultas e requintadas. Estas bailarinas dançavam em festas e lugares luxuosos, utilizando o véu como acessório. Em meados do séc. XIX, surgiu a dança "Baladi" (dança solo feminina), que causou grande fascínio no mundo inteiro, marcando a Era Orientalista, e a dança espalhou-se pelo Ocidente.

A realidade brasileira - A dança do ventre vem sendo difundida no mundo inteiro, conforme a cultura de cada País. No Brasil, podemos encontrar bailarinas tanto nas grandes cidades, como em lugares com menor número de habitantes. Ainda assim, a dança do ventre não é devidamente reconhecida no mundo da arte pois, infelizmente, as pessoas que realmente conhecem e entendem o que ela representa, geralmente são as que têm alguma ligação com as bailarinas e que estão mais integradas no processo. As pessoas em geral ainda não demonstram muito interesse nos espetáculos de dança do ventre, a não ser para assistir bailarinas da própria família ou com algum elo de amizade. Ouve-se muito que as apresentações são repetitivas, cansativas e que falta criatividade... Em parte, até concordo: os espetáculos geralmente são muito parecidos e os temas quase sempre são os mesmos mas acredito que isso já está mudando.

Aqui mesmo em Porto Alegre, já tivemos alguns exemplos de espetáculos que se destacaram pelo seu propósito. Um deles, que posso citar, foi a "Dança do Verde", que trazia como tema a preservação do meio-ambiente. Foi um espetáculo que obteve um retorno real do público, inclusive de pessoas que não eram ligadas e nem conheciam a dança do ventre. Houve uma boa repercussão e o objetivo principal foi atingido, pois as organizadoras do evento e as bailarinas conseguiram sensibilizar as pessoas. Houve também outros espetáculos em que o elenco conseguiu tocar o público, por isso acredito que a área da dança poderá crescer através da vontade e liberdade das pessoas de se expressarem através dessa arte, que merece ser apreciada por seu real valor.
Parece difícil tocar as pessoas através da dança, mas não é algo impossível. Quando nos entregamos para a dança de corpo e alma, com um propósito, as pessoas sentem... Felizmente, podemos contar com muitas bailarinas e profissionais da dança que realizam um ótimo trabalho neste meio, com a intenção e o propósito de sensibilizar as pessoas com a dança e toda a beleza que a envolve.
Cinara Klein
Fisioterapeuta, bailarina, professora e estilista de trajes de Dança do Ventre
http://www.cinaraklein.com.br
cinara@cinaraklein.com.br
PORTO ALEGRE/RS
Fotos: Arquivo pessoal
Nenhum comentário:
Postar um comentário