Dançando o Sagrado Feminino

Ao longo da vida, nossas mágoas se acumulam não apenas na alma mas também no corpo, criando couraças, tumores. Por séculos, o Feminino carregou em seus quadris o peso de repressões e culpas, mutilando, encolhendo e esquecendo sua verdade.
Mas o reencontro com seu sagrado e sua força mais essencial é um chamado que se aproxima crescentemente da mulher moderna, e se constitui numa chave definitivamente transformadora. Um dos meios mais eficientes e agradáveis dessa transição é a dança, como nos conta a dançarina e professora Shakty Shala.
Com 25 anos de dedicação à dança e professora de dança oriental há 14 anos, Shakty é fundadora e diretora do grupo de dança Alcatéia da Lua, criadora do trabalho Dança do Sagrado Feminino. Desde 1994 começou a estudar e aplicar o Sagrado Feminino na arte da dança. Seu trabalho é direcionado para a fusão de danças diversas com a dança oriental, explorando o universo desta arte através dos arquétipos femininos e das religiões, para promover o encontro da totalidade do corpo em suas mais amplas expressões.
“A dança nos desnuda e abre ao mundo, nos conforta e ampara, pois é livre de dogmas e de mentiras”, ela afirma. Acompanhe.


Durante a vida, passamos por tristes situações que não julgamos tão importantes assim, nem percebemos seu efeito sobre nós. Mas, com o tempo, elas se acumulam no corpo, na alma, e ficam estagnadas, criando couraças, tumores.
Ao longo de muitos anos, o feminino acumulou muitos males e carregou em seus quadris o peso de repressões e culpas, se escondendo, mutilando, encolhendo, submetendo e esquecendo sua verdade.
É o momento de indagar: o que escondo, engulo e quem sou. Você lembra quem é?!
Será que toda força e poder do feminino foram queimados na fogueira? Comprimidos entre espartilhos? Encoberto por burkas ou mutilado? Ocultado atrás de implantes de silicones e plásticas? A força e o poder, necessários para nos livrar deste tributo, habitam em nós, mas precisamos de uma outra força impulsionadora que pode surgir de muitas maneiras em nossa vida: como um insight, um sonho, o convite de uma amiga, uma revolta contra o sistema, uma perda trágica, entre tantas outras possibilidades.
Mas, em algum momento de nosso confuso e caótico cotidiano, esse fator desencadeante se apresenta, e pode causar grandes transformações, mudar nossa perspectiva e abrir inúmeros caminhos.

Só então nos deparamos com quem somos, ou com o grande vazio de não mais reconhecer a si mesma; ou ao sagrado dentro de nós e a necessidade de vivê-lo; o quanto esse corpo nos é tão útil, mesmo não sendo tudo o que os outros esperam dele. Mas, ainda assim, é meu corpo, e é esse corpo que carrega os filhos no ventre, os alimenta, dá prazer ao meu amante, se renova todo mês e me conecta com o poder da Lua, esse corpo me proporciona ser quem sou, ele me liga ao mundo e me comunica com o todo.

Quando nos permitimos reconquistar esse feminino, que sente, se manifesta, sofre, ama, cuida, provém, sonha, se interioriza, e cria, também libertamos os homens, e permitimos a eles o direito de reconquistar o seu feminino sagrado, no qual é possível sentir, chorar, amar e sonhar, sem ser julgado - tornando muito mais harmônica e construtiva a vida de casal. Também voltamos o olhar para a Terra e vemos a necessidade de cuidar do mundo, tendo mais amor e cuidado com os animais e a natureza.

Algo além do entretenimento - Uma das formas mais prazerosas e tranqüilas de descobrir e fazer essa transição é através da dança. A dança nos desnuda e abre ao mundo, nos conforta e ampara, pois é livre de dogmas e de mentiras.
Desenvolvo um trabalho com grupos de mulheres que busca na dança algo além do entretenimento: busca o sentido pessoal da dança, a expressão dos sentimentos, os arquétipos do universo que nela podem se manifestar para serem trabalhados.
As danças ritualísticas e ancestrais - e suas melodias - trazem intrinsecamente um grande poder de nos mover no tempo e mexer com emoções aprisionadas. Associadas a nossos chakras e seus elementos, podem romper barreiras corporais e psíquicas, fazendo a energia fluir de novo dentro de nós, sem obstáculos, em uma conexão entre o sentir e o ser que atinge o equilíbrio.
Trabalhando em grupo, as trocas são constantes, as mulheres que compartilham do mesmo processo se conhecem, se compreendem e se respeitam, mudando sua forma de olhar as outras e rompendo julgamentos e desrespeitos com outras mulheres - ato machista que ainda cometemos atualmente.
Através de leituras, debates e explanações sobre textos ligados ao Feminino, e seu sagrado mitológico, descobrimos mais sobre nós e tudo que permeia nosso universo e inconsciente coletivo. Ao entrar em contato com as Deusas interiorizadas, descobrimos que todas somos faces da Deusa em suas infinitas manifestações.
Este trabalho mescla fusões de diversas danças canalizadas para harmonização e cura do Ser, a retirada de couraças e amarras do corpo e da alma. Para resgatar o trabalho manual, os próprios figurinos são tecidos e criados por nós.
Ao trabalhar com um grupo de mulheres há um ano em São Paulo, e outro desde 2004 no Rio, percebo que, uma vez aberta a caixa de Pandora, o caminho segue continuamente. Acompanhei muitas mudanças e descobertas, processos de desconstrução e reconstrução, dolorosos ou não, eles simplesmente acontecem quando as alunas optam por esta busca individual para encontrar seu eu perdido.
Seguem pequenos depoimentos de algumas alunas:
:: "O trabalho ajuda muito a me conhecer mais, tanto fisicamente , quanto mentalmente... minha visão de mim mesma e minha auto-estima melhoram muito, assim como tenho pensado mais sobre meu comportamento corporal. Sobre o relacionamento com as outras meninas e com a professora: acho nosso trabalho muito produtivo e positivo, o relacionamento do grupo está cada vez mais forte e isso deixa nosso trabalho muito mais poderoso. Estamos todas em sintonia, sem briguinhas internas, o que torna tudo ainda mais fluente." A.A. 21 anos
:: "Desde que comecei a estudar e pôr em prática os conceitos do sagrado feminino passei a conhecer mais sobre mim mesma, a confiar mais nas minhas atitudes e desenvolvi muito mais minha paciência e serenidade. Muito mais do que uma aula de dança, este é um curso que dá ferramentas para explorar e usufruir de sentimentos e habilidades que você nunca pensou existir. É todo um trabalho do nosso interno em paralelo com a energia dos elementos da natureza; a dança é só a arte final, o resultado que você expõe sobre o que festeja dentro de você." A.F. 25 anos
Este trabalho busca o despertar do divino em cada mulher, criando e reconhecendo a dimensão sagrada inserida no cotidiano, buscando o equilíbrio e autoconhecimento, fortalecendo os aspectos femininos em nosso Ser, através do conhecimento corpóreo, emocional e espiritual, harmonizando nosso Ser em comunhão com a Terra.


Shakty Shala/ Gleice Lemos Frioli
Dançarina e professora de dança
Estudou Psicomotricidade e Fisioterapia, e atualmente dedica-se à Psicologia
Pertence ao movimento "O Milionésimo Círculo" (http://millionthcircle.org), de Jean Shinoda
http://www.dancadosagradofeminino.com
http://gleicel.multiply.com/
http://shaktyshala.blog.terra.com.br/
gleicel@hotmail.com
SÃO PAULO/SP
Fotos
Arquivo pessoal

Foto topo
Edição de arte a partir de foto de arquivo pessoal

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